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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Luz no fim do túnel

Quando estamos envolvidos dentro da empresa com um problema muito complexo e de repente alguém aparece com uma solução infalível e que por si só vai resolver todas as nossas preocupações, das duas uma: ou realmente o sujeito (ou gênio) foi muito criativo e resultou nesse "ponto fora da curva" ou a coisa vai ser uma grande decepção. E se Einstein estava certo ao dizer que o sucesso vem de 1% de inspiração e 99% de transpiração, essa deve ser a respectiva distribuição entre os dois casos possíveis.
Sempre desconfio de soluções milagrosas. Alguns podem me chamar (e chamam) de pessimista e muito desconfiado. Mas já passei por poucas e boas que me fizeram adotar essa postura.
Situação similar foi abordada por aquela sugestão do Chico Buarque para o governo Lula de se criar um "Ministro da M...". A função desse novo ministro seria a de dar a palavra final sobre qualquer coisa. Sendo assim, ao criarem um novo programa, lei, plano econômico, ou coisa parecida, levariam para esse "Super-Ministro" e ele daria sua sentença final: "Vai dar M..." (ou não). E dependendo da sua avaliação, não deveríamos mais ter erros sendo cometidos e ações onde não se analisaram todos os lados possíveis.
Isto obviamente não é uma apologia ao marasmo e ao conformismo, mas um aviso aos criativos de plantão, que se apaixonam e emocionam pelas suas idéias muito criativas e planos infalíveis, mas esquecem de ver o que pode dar errado. Não é para abandonar a idéia... Não... É para respirar um pouco. Trocar de lado na mesa. Mudar o chapéu na cabeça. Pensar um pouco no "Mr. Murf" e ter certeza de que tudo vai dar mesmo certo.
Assim a sua luz no fim do túnel vai se transformar em uma saída muito boa e não numa locomotiva vindo no sentido contrário.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O iPod na Apple

Continuando o assunto do post anterior (do dia 07 de fevereiro)...
Charles Fine afirmava que: nenhuma capacidade existe por si mesma, isolada das demais e em um mundo de alta velocidade evolutiva, as empresas precisam concentrar o pensamento estratégico na totalidade da cadeia de fornecimento, e não apenas nas capacidades isoladas. Isso está claro na capacidade da Apple de influenciar toda a cadeia do "infotainment" e tornar-se um elo fundamental dessa cadeia. Para a preparação do artigo que analisa as estratégias da Apple de acordo com os conceitos de Charles Fine eu acabei juntando um monte de informações sobre a evolução do iPod. Uma dessas pesquisas é um resumão da história do iPod e como ele surgiu dentro da Apple. Traduzi e juntei algumas fontes que resumem como chegamos a atual supremacia do iPod no mercado de música e vídeo digital. Boa leitura.

A Apple
A Apple, depois da decisão de verticalização da sua plataforma de computador pessoal e que selou a forma pela qual o mundo se voltou para o IBM-PC, tentou redimir-se nos seus lançamentos futuros. Parcerias, terceirizações e licenciamentos estiveram presentes nas suas orquestrações de produtos que passaram por: câmeras digitais, com a parceria com a Kodak para o lançamento da QuickTake em 1994, vídeo games, com o licenciamento do Pippin para a Bandai em 1996 e até mesmo a criação, meio sem querer, do conceito de PDA (Personal Digital Assistent) com o Newton, que foi comercializado de 1993 a 1998. Todos esses casos resultaram em grandes fracassos mercadológicos.
Porém foi com o lançamento do iPod que ela revolucionou o mercado de áudio e vídeo digital e modificou de uma vez por todas a cadeia da indústria de infotenimento.
A idéia não era exatamente original uma vez que o conceito de música pessoal e portátil surgiu com o Walkman da Sony em 1979 e depois foi digitalmente aperfeiçoado com o lançamento dos primeiros tocadores de música digitalizada no formato MP3 em 1998, pela coreana SaeHan com o seu MPMan.

O detonador
Tony Fadell, um ex-funcionário da Phillips, vislumbrou um novo leitor de arquivos MP3. Diferentemente dos então volumosos tocadores que utilizavam memória flash, Fadell queria desenvolver um tocador, equipado com um pequeno disco rígido, que estaria conectado com um sistema de entrega de conteúdo onde usuários poderiam adquirir e baixar músicas legalmente.
A primeira empresa que ele buscou foi a RealNetworks (em 2000), onde o CEO, Rob Glaser, já se encontrava no comando de um grande sistema de entrega de conteúdo utilizando os canais de rádio e televisão da Real. A Real não conseguiu entender a necessidade de desenvolver um novo acessório para o seu já lucrativo sistema. Depois eles seriam pegos desprevenidos quando a loja iTunes foi aberta. Fadel contatou então a Philips e também teve sua idéia rejeitada.
Sem desespero, Fadell procurou a Apple, que anos antes havia jurado nunca mais entrar no setor de equipamentos eletrônicos depois dos fracassos do Pippin e do Newton. Mesmo assim os executivos da Apple ficaram muito entusiasmados com a implementação dos planos de Fadell e ele foi contratado no início de 2001 para gerenciar um time de desenvolvimento com cerca de trinta pessoas e com um prazo de um ano para lançar um produto de sucesso.
Ao contrário da maioria dos outros fabricantes de tocadores MP3, o iPod não usaria controles que eram mais adequadas para o Walkman da Sony de 1979 do que para um tocador MP3, com uma capacidade de milhares de músicas. Em vez de utilizar botões para pular de uma música para outra, um usuário poderia girar uma roda na parte frontal do dispositivo para percorrer uma lista de canções e encontrar a música que o usuário quer ouvir. A mesma roda também foi utilizado para controlar os menus do sistema. Como resultado, foi muito mais fácil de navegar através das opções e listas de músicas no iPod do que nos tocadores da Nomad ou Compaq.

O Lançamento do iPod
O iPod foi anunciado ao mundo em um auditório alugado perto da sede da Apple em Cupertino. O público – e o resto da indústria de computadores – ficaram chocados com o produto. Ninguém entendeu – naquele momento - a importância do dispositivo para a Apple e para a indústria da música. Somente mais tarde eles puderam dar o devido valor ao lançamento. Muitos reagiram com hostilidade ao produto e com críticas que foram do seu preço (U$ 400) a sua roda de rolagem e a sua falta de compatibilidade com o Windows.
Um mês depois, o iPod foi lançado na Europa com uma entusiástica recepção. Enquanto mais unidades eram vendidas foi se formando um ecossistema em torno do dispositivo, como novos acessórios e softwares.

A Cadeia Formada
Seguiram-se novas versões, chamadas de “novas gerações” e novos acessórios, mas a mais importante atualização para o iPod não foi, de fato, nenhum recurso de hardware ou software. Foi a implementação do objetivo inicial de Tony Fadell de criar todo um negócio em torno do iPod.
A loja virtual de músicas iTunes Music Store (iTMS) foi anunciada no Verão de 2003 e abriu alguns dias mais tarde. Agora, o iPod tinha um fornecimento de conteúdo totalmente legal, e possibilitou a Apple reduzir os preços do iPod agora que ela tinha toda uma nova fonte de receitas.
A iTunes Store é um serviço online de música e vídeo operado pela Apple Inc. dentro do programa iTunes. Introduzida em 28 de abril de 2003, a loja provou a viabilidade de vendas online de música. Até setembro de 2006, a loja já havia vendido mais de 1,5 bilhão de músicas, responsável por mais de 80% das vendas mundiais de música online. Os arquivos transferidos da loja vêm com restrições de uso, aplicadas pelo sistema de gestão de direitos digitais FairPlay da Apple. Todas as canções são vendidas por um único preço em todas as lojas, exceto a japonesa. Nos Estados Unidos e Canadá, custam US$/CA$ 0,99; AU$ 1,69 na Austrália; € 0,99 na eurozona e £ 0,79 no Reino Unido. No Japão, as canções são vendidas por ¥ 150 e ¥ 200. Os downloads gratuitos são disponibilizados nas terças-feiras, e permanecem gratuitos até a próxima terça-feira. Alguns artistas optam por ter algumas canções disponíveis sem custo também, como o single "When the President Talks to God" da banda independente Bright Eyes.

Aprisionamento na Cadeia
Enquanto licenças para a compressão AAC e o formato de arquivo "mp4" estão disponíveis abertamente, a Apple não concordou em licenciar seu esquema de encriptação FairPlay para outros fabricantes até recentemente, então apenas o iPod da própria companhia podia reproduzir arquivos comprados na loja, além de computadores com iTunes ou QuickTime instalado. Em 7 de setembro de 2005, a Motorola e a Apple anunciaram o Motorola ROKR E1, que vem com o programa iTunes instalado e com a capacidade de reproduzir canções da iTunes Store. Cerca de dois meses depois o segundo celular com iTunes, o Motorola RAZR V3i foi anunciado. O Motorola SLVR L7, lançado no início de 2006, acabou tornando-se de fato o segundo telefone disponível no mercado a dar suporte a canções codificadas pelo iTunes ou compradas pela iTunes Store.

Assista no iPod !
Lançado em Outubro de 2005 a quinta geração do iPod pode ser encarada como tão importante como foi a criação da iTunes Music Store. Disponível em versões com 30 GB e 60 GB o iPod passa a ser capaz de reproduzir vídeos comprados on-line. Michael Iger, o CEO da Disney, negociou com a Apple a venda de cópias da programação da rede ABC na loja iTunes. As conversações foram iniciadas um ano antes, mas Jobs e o CEO da Disney, Michael Eisner, não chegaram a um acordo e, além disso, a tecnologia ainda não estava suficientemente barata.
O iPod de quinta geração é até 30% mais fino do que modelos anteriores. A Apple atualizou esse iPod em Setembro de 2006 com uma tela mais brilhante e vida mais longa da bateria, além de equipá-lo com um disco rígido de 80 GB.
Analisando o volume de iPods vendidos é fácil de se perceber o efeito conjunto do lançamento da loja iTunes, da entrada no mundo do vídeo e a constituição da cadeia de distribuição de conteúdo multimídia nesse crescimento.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

As moscas das frutas

Várias vezes discuti com colegas de trabalho, como seria "legal" trabalhar em um setor de indústria mais tranquilo, com crescimentos e alterações de tecnologia muito mais modestos. Onde não existiam grandes saltos de guinadas de rumos. Assim poderíamos planejar mais a longo prazo nossos movimentos o que traria redução nas pressões imediatistas. Em resumo... poderíamos viver um pouco mais tranquilos e sem essa correria louca. (Com uma grande chance de ficarmos entediados em poucas semanas.)
No mestrado li um livro muito interessante e que recomendo para quem está trabalhando nesses mercados malucos de Telecom e Internet: "Mercados em Evolução Contínua", de Charles Fine. Um livro de 1998-1999, mas que continua muito atual. O autor descobriu que os biólogos preferem estudar as modificações genéticas das drosófilas (as moscas das frutas) pois elas tem uma vida útil de 40 dias. Nesses 40 dias elas nascem, vivem, se adaptam ao ambiente, evoluem geneticamente, reproduzem e morrem. Durante 1 ano de trabalho é possível analisar o efeito dessas transformações em várias gerações de drosófilas e como elas evoluem em resposta ao ambiente em que vivem.
Sabendo dessa história, Charles Fine resolveu abandonar um estudo sobre a cadeia de suprimentos da indústria automobilística e passar a estudar setores com "alta velocidade evolutiva". Entre esses setores ele estudou a indústria do entretenimento e da informática (hardware e software).
É muito interessante perceber como ele conseguiu prever acontecimentos dessas indústrias que estamos vivenciando hoje, a partir das observações de ciclos de vida de empresas do final da década de 90.
Resolvemos (um colega da área de TI, nosso orientador no mestrado e eu próprio) escrever um artigo acadêmico sobre como os conceitos de Charles Fine são válidos e podem ser aplicados às estratégias mercadológicas da Apple com relação ao iPod e como isso está modificando a cadeia de distribuição do Infotenimento (informação com entretenimento).
Depois dou mais detalhes sobre o artigo, que já submetemos para um congresso na Holanda.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Power to the people (or to the user) !

As mudanças que o entretenimento digital, envolvendo música, vídeo, textos, jogos, vem sofrendo nesses nossos tempos têm origem em um único fenômeno: o aumento do poder do usuário. Quando falo "usuário", leia-se: audiência, telespectador, jogador (gamer), Internauta e outros tipos assemelhados.
Esse "usuário" tem cada vez mais capacidade de processamento, mais recursos nos seus aparelhos e maior conectividade com a rede e com outros usuários. E isso tudo acontece tanto em uma situação fixa como em situações de mobilidade.
A convergência é "puxada" por esse usuário, e não o contrário. É esse novo usuário que fez com que no Brasil se vendesse mais computadores que televisores no ano de 2007 (dados da indústria de eletro-eletrônica). Esse usuário é que exige dos fabricantes celulares com mais e mais funções, colocando em um único aparelho: acesso à Internet, e-mail, tocador de música, tocador de vídeo, máquina fotográfica, filmadora, editor de documentos, gravador de voz, localizador GPS com mapas, videoconferência e até chamadas telefônicas.
Ao ter acesso à todo esse "poder", esse "novo usuário" começa a escolher formatos mais adequados às suas necessidades e os produtores e distribuidores de conteúdo já começaram a perceber essa mudança. Por isso acredito que o futuro será, quase que totalmente, "on-demand". A música que eu quero e não o que uma rádio decidiu me empurrar. A sessão do filme que eu quiser, e quando eu quiser, e não os formatos enlatados que alguma TV me obrigar a ver. O mesmo vale para jogos, textos, notícias. Sim, notícias... Obviamente que não poderei escolher quando os fatos vão ocorrer, mas posso escolher o que e quando quero ser informado sobre isso.
Os eventos "ao-vivo" também não poderão ser deixados de lado, mas lançando mão de muito mais interatividade e mesmo pequenos "time shifts" se o poderoso usuário assim o desejar.
Power to the people !
Minha correspondente (e amiga) para assuntos de IPTV e conteúdo, Isabela Balensiefer, acrescentou a meu pedido:

" Imagine você sentar no seu sofá, começar a assistir seu programa favorito e, ao mesmo tempo, conversar com as pessoas que estão assistindo o mesmo que programa que você, comprar a camisa que o personagem que está atuando no programa está usando, acessar a receita que ele está saboreando e, por fim, acessar o perfil das pessoas que acessam os mesmos programas que você. Ufa! Cansou?
E tem mais, além disso, você ainda pode ser impactado por uma propaganda daquele creme que você tanto queria! Aí você se pergunta: “Nossa, como a TV adivinhou que eu queria tanto esse produto?!”, é meu caro, eles sabem tudo sobre você!
Não tem nada de místico nisso, isso chama-se IPTV!
A promessa deste novo serviço é mais interatividade, mais conhecimento do usuário, novas ofertas para os clientes, mais concorrência, novas opções de entretenimento e talvez, um custo adicional.
No Brasil, algumas operadoras de telefonia fixa já estão se mobilizando na entrega deste serviço. Mas ao que tudo indica, ainda vai levar um tempo para ser entendido e adotado no país e no mundo.
Um exemplo de serviço que está maduro mas falta “cultura” para ser bem acessado é a Comcast.
A ComCast é a maior companhia de televisão por cabo e o segundo maior provedor de acesso à internet dos Estados Unidos.
Trata-se de uma operação de TV por assinatura que possui a oferta de VOD há 3 anos e apenas 20% de seus usuários são consumidores on demand.
Portando ainda vai levar um tempo... "